sábado, 26 de dezembro de 2009

DEPOIS DE SETE, CINEMA NA SETE. ÚLTIMA EXIBIÇÃO! DERRUBADO!

Não sei te dizer como mas, após umas rápidas chapinhas, engessaram uma de minhas pernas. O médico olhou para minha face e disse: "Não tem jeito, vai ter de ficar em casa descansando durante uns meses".

Ficar em casa?

Nem pensar, pensei, jurando ao médico que, como recomendado permaneceria em casa sentada, ao vê-lo lambuzando a minha perna de gesso. Como iria para escola? A questão era que estavamos em fim-de-ano escolar, as provas acontecendo e a maioria de meus amigos eram menininhos mirrados ...

Inicialmente, para me mover, tal qual um saci, pulava em uma perna só até cair e, como castigo, me levaram ao mesmo médico que, me olhando muito feio, engessou a outra.

Quando quero ironizar, gosto de dizer a frase: "triste fim dos ideais da Policarpo Quaresma".

Engessada até o pescoço (que hipérbole!), seria o fim de minhas aventuras escolares?

E o namorado "Regis"?

Para você ter uma idéia, nesta época, até descobrir que ele era gay, namorava o espetacular, lindo, sarado, maravilhoso e musculoso "Regis" que me pediu em namoro para fazer ciúmes ao namorado dele que o tinha dispensado!

Pois é, com Elisa tudo acontece!

E olhe que o bofe, um baita gato (!), gay ou não, penso que teve umas recaídas por mulheres pois, me beijava muito e tinha uns abraços bem calorosos!

Bom, dizer que meus amigos eram meninos e mirrados, é quase um exagero, não é bem verdade. Tinha um colega bem fortão, o "Carlão", que auxiliou my father - o "HM" - me carregando com minhas duas pernas engessadas, do carro até os bancos escolares, depois de conseguir me convencer que namorar o "Regis", uma mocinha como eu, não seria uma boa escolha.

Decididamente, não!

Apesar de magérrima, imagine o peso de carregar uma donzela com suas duas pernas engessadas! Tinha que ser alguém bem treinado, fortão, ninguém melhor do que "Carlão" que era do exército!

"Você tem que casar", insistia "Carlão", de preferência com ele, um bonzinho mocinho que estava na aeronáutica, tudo o que sonhara para mim, não casar com ele mas, ser das forças armadas. Ao me carregar, não sei se foi a visão do branco no gesso mas, o fortão já estava se animando em me levar às núpcias depois de me idealizar vestida de noiva lhe dizendo sim diante de algum padre no altar.

E eu lhe respondia: "Carlão, me carregue e vai te catar!"

E de lencinhos no nariz, chorando por "Regis", era o "Carlão" quem me carregava.

E não era um fim-de-ano escolar comum.

Não!

Tempo em que faziamos as provas com o violão embaixo do braço, desclassificados no festival, já em clima de saudades uns dos outros, para depois que as aulas terminassem, irmos às lanchonetes de esquinas brincar de cantar.

Tinham também as juras de amor de "Carlão"!

Vou te amar por toda a eternidade!

Esta frase é ótima para colorir folhetins!

Nesta época não imaginava que parte de minha vida teria como palco, a rua Sete de Abril. Pouco antes de ser desativado, de pernas engessadas, ao lado de meus amigos, nele, assistimos o Festival de Woodstock, um abandonado cinema que logo depois seria tristemente derrubado.

Interessante descobrir que John Lennon recusou o convite para tocar no festival em solidariedade à banda de Yoko Ono, a verdade é que resolvemos ir ao tal cinema somente porque seria desativado na sequência. O cinema estava às moscas. Mais uma vez, esperançoso, pobre "Carlão" me carregou.

Pensando em meu desejo de um milhão de acessos, das dificuldades que os idealizadores do primeiro Woodstock enfrentaram ao realizar o festival, descobri que mais de quinhentas mil pessoas compareceram no evento. Ou seja, o evento aconteceu com mais do dobro do que previsto!

Não tive a chance de assistir ao vivo ou suas retransmissões em 1969 pois, apesar de já ser estudante de música e de saber que estava acontecendo o maior evento hippie da história, meus pais não permitiram que assistisse.

Assim, anos depois, de pernas engessadas, finalmente fui assistir o Festival para também me despedir do "Centro de Estudos Cinematográficos, na Rua 7 de Abril, no local onde estava o recém inaugurado Museu de Arte (atual MASP)" - leia o boletim 114.

HoHoHo.

Em 1969, enquanto rolava o festival, preparei minha primeira redação, contando para "Isabel" uma história em que, doravante, nós os seres humanos, estranhamente, seriamos convocados por números.

HoHoHo.

E sempre foi o que aconteceu na Rua Sete de Abril, para muitos.

Depois de ir ao cinema, retirar o gesso das pernas, não dei uma de Hendrix mas, magicamente, meu violão se quebrou. Muito tempo depois, a rua que sediou um dos mais importantes cinemas em São Paulo, foi palco de muitas outras histórias em minha vida.  Não era carroceira, propriamente dita mas, na rua Sete de Abril, fiz muitas "cargas".

HoHoHo.

Minha profecia contida na redação de sete anos de idade se concretizou e fomos chamados por números de identidades profissionais!

HoHoHo.

Nesta época, não era mais "WM" quem dedilhava seu violão para mim, era eu própria ou "Celso", quase que um cover de Roberto Carlos, que também já partiu deste mundo para outro melhor, certamente, hoje sorrindo bastante lá no outro lado!

E ai você vai perguntar: "E o que isso tem com Sá, RodriX & Guarabyra?"

Respondo: "O X da questão, como "HM" que era chamado por seu sobrenome, gostava de afirmar, é que eles ouviram Bob Dylan".

Apesar do título "Festival de Woodstock", diante da recusa dos habitantes da cidade, o evento aconteceu em outra pequena cidade que leva o nome de Bethel, menos de duas horas de distância da que levou os créditos no nome do maior acontecimento hippie da história da humanidade.

Tive de esperar alguns anos para assistir o Festival de Bethel.

Sinta que o sobrenome do festival, "Bethel" não soará muito bem, melhor Woodstock!

Então, vos digo que fui para a Rua Sete de Abril, com as minhas duas pernas engessadas, depois de terminar com meu namorado gay, carregada no colo por "Carlão", que dizia me amar, um militar das forças aéreas que tinha a profissão que almejara ter desde os dezessete anos de idade, em um cinema que em seguida seria destruído, assistir como sua última exibição, o festival que queria ver desde os meus sete anos de idade, que aconteceu na verdade em Bethel, um outro município, mas Woodstock, cidade de Bob Dylan, foi quem levou os créditos!

oooOOh Darling!

Não tinha reparado. A letra de Wonder Woman, interpretada por Sá & Guarabyra, que me inspirou ao post de hoje revisado (escrito ontem de tarde, na verdade), é de autoria de Toninho Horta e Fernando Brant.

E eu ouvi "WM" cantar muitos anos Lennon e McCartney: "oOOOh! darling, please believe me. I'll never do you no harm. Believe me when I tell you. I'll never do you no harm. Oh! Darling, if you leave ..."

Ouvi "Celso" dedilhar muitas canções de Roberto Carlos.

Fiquei amiga de Lia Santiago, cover da garota papo firme, a Rita Lee, casada com o seu parceiro musical, o Roberto de Carvalho.

Não sei se ele me considerava um avião mas, naquele dia terminei com as duas pernas engessadas nos braços de um piloto da aeronáutica!

Devo repetir: "Pois é, com Elisa tudo acontece! Depois que "Regis" voltou para o seu antigo amor, namorei mais alguns gays que sempre têm umas recaídas por mulheres quando estão ao meu lado!"

Seria o sorridente Júpiter na oito em Aquário, diria a comitiva de astrólogos?

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