sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

QUANDO O AMOR PELA ARTE É MAIOR

Finalmente, os The Beatles Cover partiram do quartinho de Richard na Aclimação para ensaiar no "Barbadinho" em Moema nas noites de domingo.

Puros ensaios pois, inicialmente, os bares em Moema aos domingos ficavam às moscas.

Era um começo, dizia "WM", sorrindo ao lado dos demais.

Eu era muito jovem.

Um pouco mais que quinze anos.

Somente "Roberto", um dos guitarristas, não tinha uma namorada para acompanhá-lo aos espetáculos.

Assim, se pouco mais de uma dúzia de pessoas estivessem no local, quatro seriam as primeiras damas.

E não é fácil ser a primeira dama do vocalista da banda quando a casa começa a lotar.

Por vários motivos.

Eu teria de estar em sintonia com as demais namoradinhas e deixá-lo bem à vontade com o público.

Ou seja, as outras três teriam de gostar de mim e nem todas gostavam ...

Teria de ser simpática e sorridente para com todos se acaso o público notasse minha presença e isto conflitava com os ciúmes de "WM".

E falando em simpatia com o público, o principal problema em ser a primeira dama de "WM", segundo seus próprios dizeres, foi justamente quando a casa começou a lotar e eu comecei a deixá-lo bem à vontade com seus fãs.

Muito à vontade!

Torcia para que a casa lotasse, que todos gostassem da banda, que voltassem ...

Aprendi a controlar o natural ciúme decorrente do assédio das mulheres e dos homens e também passei a me divertir.

A m e m: "WM hoje lhes pertence!"

A princípio, nos intervalos, pulavam do palco e corriam ao nosso encontro e, naturalmente, todos os seus fãs queriam nos rodear.

OooH Darling!

As primeiras damas ...

Começamos a ser alvo de olhares.

Quando uma não podia comparecer, pedia para a outra: "Tome conta do my love!"

Enquanto os mocinhos trabalhavam duramente nos palcos, alguns queriam arriscar passos com as namoradinhas nas pistas de dança e surgiam os olhares reprovadores.

E "WM" era ciumentíssimo.

Começou a exigir que eu ficasse sentada a noite inteira ou inerte.

OooOh Darling!

E muitas foram as brigas nos intervalos da apresentação fora das casas de espetáculos, brigas que os fãs nunca souberam ou presenciaram.

Ao seu entendimento, "WM" dizia que já não conseguia mais atuar nos palcos e ao mesmo tempo montar guarda enquanto eu dançava na pista em meio de seus fãs.

Que não conseguia se concentrar.

Que o fulano era um folgado.

Que o zicrano estava me olhando.

Que aquele outro me paquerava.

As conhecidas queixas dos que já sentiram ciúmes um dia.

E o mais engraçado era que durante toda a apresentação eu não prestava atenção no que acontecia ao meu redor.

Relaxada, dançava.

Ou os meus olhos tinham uma direção certa: "o palco".

Inúmeras foram às vezes que me dirigiu olhares reprovadores ao me ver dançando ao sabor do "ie-ie-ie".

E os domingos passaram a ser muitas horas das noites de quartas, quintas, sextas e sábados.

Já não namoravamos mais tanto no sofá.

Acho que poucas foram as pessoas que acompanharam "WM" desde o início de sua carreira.

Como afirmei em outro post, conheci "WM" cantando em um pequeno teatro no Bexiga que há muitos anos foi derrubado.

Neste dia, quase que um dia como o de hoje, de fim-de-ano, o teatro estava praticamente vazio e "WM" cantou com exclusivamente para mim e meia dúzia de pessoas.

Uma verdadeira exibição de seu natural talento para a arte.

Como se estivessemos em casa.

Sintam-se na sala-de-estar.

"WM¨ vai cantar.

Estes momentos de pura exclusividade, de ensaios, o que gosto de titular "serenata acústica ou eletrônica", me perdoem os fãs mas, vos digo, são verdadeiras raridades, pura obra-de-arte.

"Um rockizinho do meu amor".

É.

Não é fácil ser a primeira dama de um vocalista.

Tem que ter muito amor.

Amor pela arte.

Um amor incondicional.

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