Era o que "Guilherme" usava em seus pés quando o conheci.
Um garoto bem esquisitinho.
Surgiu do nada no meio da molecada que em nossa vilinha estava sempre a brincar.
Como que encenando peça de Shakespeare, "Guilherme", desde que surgiu, começou a berrar o amor que inexplicavelmente passou a sentir por mim!
Olhamos uns aos outros.
Alguém gritou: "Este garoto é novo na vilinha?"
Guilherme, partindo em minha direção disse: "É amor de primeira vista!"
Assustada, perguntei: "Quem é esse? Colombo?"
Todos responderam: "Não sei!"
Saltei apavorada, em disparada, bati em retirada, rumo ao portão de minha casa e aos berros, gritei: "Socoooorro! Mããããããe!"
Logo "IM" surgiu no batente da porta com o olhar assustado. Ao seu lado, estava "MAM". Todos arregalaram os olhos para ouvir "Guilherme" ou seria (?) "Colombo" a gritar: "Amo a sua filha! Não adianta tentar me impedir! Decidi que vou me casar com ela! Nesta porta vou dar plantão, é aqui que vou ficar!"
Creiam.
E foi o que aconteceu.
Não sabemos de onde o "Colombo" surgiu mas, dizia que tinha me avistado de primeira vista!
Está certo que todos me diziam que parecia uma indiazinha!
Mas daí a dizer que me avistou de primeira?
Não, outras pessoas tinham antes me avistado.
"Guilherme" gritava: "Vou casar com você!"
Não, não vai.
Diariamente, o "Colombo" se plantava no portão de casa para me ver ser escoltada em direção à escola.
O mirrado garoto, assim que me avistava, corria em minha direção e seu amor por mim, aos berros, declarava. Todas as manhãs, lá estava "Guilherme ou Colombo", sei lá, para repetir a cena, tentar me agarrar pelos braços ou por meus longos cabelos para me beijar.
Dele corria em disparada, gritando por minha mãe: "Mããããeee! Apareceu de novo! O menino louco!"
E a criançada começava a gargalhar pois, eu e "Guilherme" passamos a ser a atração da vilinha naquelas engraçadas manhãs e tardes.
"Guilherme" sempre desafiava: "Não adianta nem tentar me impedir! Com sua filha, ei de me casar!" Era o que dizia o "Colombo" ao avistar a pequena indiazinha, eu!
Minha mãe, agora, junto da criançada e de toda a vizinhança, ria do garoto e de meu olhar de donzela ou de indígena apavorado.
Nossas manhãs foram, durante algum tempo, temperadas com os súbitos rompantes do amor do garoto "Guilherme" que gostava de apontar o dedo para exibir seu tênis surrado com o meu nome nele gravado.
Em ambos os pés, neles estava escrito o diminutivo de Elisabete: "Betinha".
Aos olhos do garoto, fosse eu ou não para ele, uma bola ou temperos para India, o certo é que quando surgia, inesperadamente, o candidato a príncipe corria em minha direção para tentar me abraçar.
Fugia eu apavorada!
Já a criançada sempre me ajudava, driblando "Guilherme", impedindo que de mim se aproximasse, como que marcando um adversário em partida de futebol, até que a porta de minha casa conseguisse alcançar.
"Guilherme" se jogava, então, no meio fio da rua, bem em frente ao portão de nossa casa, empinava seus braços aos céus e se punha todos os dias a gritar: "Betinha, eu te amo!".
E lá permanecia o "Guilherme", em plantão, como um oficial de exército, aguardando o horário que sairia para ir à escola mas, entretanto, de mim não conseguia se aproximar diante da escolta que minha mãe armava por todos os lados.
Dizia para minha mãe: "Este garoto é doido, mãe! Me proteja!"
A vizinhança toda, pacata que era a nossa ruazinha, passou a esperar por "Guilherme" todas as manhãs, para rir das cenas em que eramos os principais personagens, cenas de um amor exacerbado por temperos ou "cravos", sei lá.
Coitado.
O cavaleiro medieval, como se eu fosse uma bola-de-futebol, suas bolinhas-de-gude coloridinhas ou sua coleção de figurinhas, todos os dias corria em minha direção e se jogava aos meus pés.
Um perfeito exagerado.
Um garoto bem esquisitinho.
Surgiu do nada no meio da molecada que em nossa vilinha estava sempre a brincar.
Como que encenando peça de Shakespeare, "Guilherme", desde que surgiu, começou a berrar o amor que inexplicavelmente passou a sentir por mim!
Olhamos uns aos outros.
Alguém gritou: "Este garoto é novo na vilinha?"
Guilherme, partindo em minha direção disse: "É amor de primeira vista!"
Assustada, perguntei: "Quem é esse? Colombo?"
Todos responderam: "Não sei!"
Saltei apavorada, em disparada, bati em retirada, rumo ao portão de minha casa e aos berros, gritei: "Socoooorro! Mããããããe!"
Logo "IM" surgiu no batente da porta com o olhar assustado. Ao seu lado, estava "MAM". Todos arregalaram os olhos para ouvir "Guilherme" ou seria (?) "Colombo" a gritar: "Amo a sua filha! Não adianta tentar me impedir! Decidi que vou me casar com ela! Nesta porta vou dar plantão, é aqui que vou ficar!"
Creiam.
E foi o que aconteceu.
Não sabemos de onde o "Colombo" surgiu mas, dizia que tinha me avistado de primeira vista!
Está certo que todos me diziam que parecia uma indiazinha!
Mas daí a dizer que me avistou de primeira?
Não, outras pessoas tinham antes me avistado.
"Guilherme" gritava: "Vou casar com você!"
Não, não vai.
Diariamente, o "Colombo" se plantava no portão de casa para me ver ser escoltada em direção à escola.
O mirrado garoto, assim que me avistava, corria em minha direção e seu amor por mim, aos berros, declarava. Todas as manhãs, lá estava "Guilherme ou Colombo", sei lá, para repetir a cena, tentar me agarrar pelos braços ou por meus longos cabelos para me beijar.
Dele corria em disparada, gritando por minha mãe: "Mããããeee! Apareceu de novo! O menino louco!"
E a criançada começava a gargalhar pois, eu e "Guilherme" passamos a ser a atração da vilinha naquelas engraçadas manhãs e tardes.
"Guilherme" sempre desafiava: "Não adianta nem tentar me impedir! Com sua filha, ei de me casar!" Era o que dizia o "Colombo" ao avistar a pequena indiazinha, eu!
Minha mãe, agora, junto da criançada e de toda a vizinhança, ria do garoto e de meu olhar de donzela ou de indígena apavorado.
Nossas manhãs foram, durante algum tempo, temperadas com os súbitos rompantes do amor do garoto "Guilherme" que gostava de apontar o dedo para exibir seu tênis surrado com o meu nome nele gravado.
Em ambos os pés, neles estava escrito o diminutivo de Elisabete: "Betinha".
Aos olhos do garoto, fosse eu ou não para ele, uma bola ou temperos para India, o certo é que quando surgia, inesperadamente, o candidato a príncipe corria em minha direção para tentar me abraçar.
Fugia eu apavorada!
Já a criançada sempre me ajudava, driblando "Guilherme", impedindo que de mim se aproximasse, como que marcando um adversário em partida de futebol, até que a porta de minha casa conseguisse alcançar.
"Guilherme" se jogava, então, no meio fio da rua, bem em frente ao portão de nossa casa, empinava seus braços aos céus e se punha todos os dias a gritar: "Betinha, eu te amo!".
E lá permanecia o "Guilherme", em plantão, como um oficial de exército, aguardando o horário que sairia para ir à escola mas, entretanto, de mim não conseguia se aproximar diante da escolta que minha mãe armava por todos os lados.
Dizia para minha mãe: "Este garoto é doido, mãe! Me proteja!"
A vizinhança toda, pacata que era a nossa ruazinha, passou a esperar por "Guilherme" todas as manhãs, para rir das cenas em que eramos os principais personagens, cenas de um amor exacerbado por temperos ou "cravos", sei lá.
Coitado.
O cavaleiro medieval, como se eu fosse uma bola-de-futebol, suas bolinhas-de-gude coloridinhas ou sua coleção de figurinhas, todos os dias corria em minha direção e se jogava aos meus pés.
Um perfeito exagerado.
Sentada no sofá da sala, minha mãe lia suas estórias de amor, folheava seus romances de Rebeca ou de Grande Hotel, e eu, que queria mais era bater figurinha ou jogar bolinha-de-gude na calçada com a molecada, foi quem começou a ver os príncipes ou os "Colombos" procurando por seus "cravos", surgindo de todos os lados!
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