quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

EU SOU UMA "ET"

E quem poderá dizer o contrário?

Depois de ler os primeiros livros de Agatha Christie, com um pouco mais de onze anos, de rir muito no quartinho em que faziamos nossas guerrilhas imaginárias, arremessando os travesseiros de lá para cá, de cá para lá, fomos informados de que Vó-A tinha partido deste lado do mundo para outro melhor ...

Mesmo após a notícia ter sido dada, continuamos a rir muito.

Riamos prá valer.

Como se o céu estivesse em festa.

Faleceu sem nos ver pela última vez, disse-nos sua dama de companhia.

De que Vó-A tinha pedido para "Titia LuÍSA" que a trouxesse para junto de seus netos.

Anos mais tarde, atirei isto na face de "LuÍSA", embora esta tenha passado seus últimos dias em minha companhia, lendo tranquilamente seus jornais ao som do Acústico MTV dos Titãs ...

Nunca entendi a razão de não existir um Acústico MTV de Sá, Rodrix & Guarabyra. Isto é algo imperdoável.

Vesti-me rapidamente e corri para casa de "Berê" para lhe contar que tinhamos um verdadeiro caso.

Munidas de um espelhinho, seus pais autorizaram que nos acompanhasse para casa da Vó-A.

Lá estava ela, deitada em sua cama ...

Parecia que dormia um sono profundo.

Gritei para "Berê": "Ela está viva!"

A que respondeu "Berê": "Coloque o espelhinho perto de seu nariz!"

Momento em que todos começaram a rodear a cama de Vó-A afirmando que ela estava morta ...

Tinhamos certeza de que o espelhinho ficara embasado.

Ela estava viva! - disse para "Berê".

Imaginação ou não, iniciamos nossas investigações.

"Berê" me chamou de lado para que observássemos a dama de companhia de Vó-A totalmente suspeita e contraditória em suas justificativas.

Achamos seu depoimento inconsistente ao afirmar que Vó-A teria se deitado entristecida e proferido sua última frase: "Não verei mais Isaurinha e as crianças".

E dormiu.

Segundo a dama, Aurora teria pedido para Luíza que a trouxesse para junto da outra filha. Queria transcender perto de nós mas o pedido lhe foi negado.

Berê dizia: "Olhe como ela dá risada!"

A que respondi me sentindo culpada: "A gente também riu!"

Outro argumento seria o de que com a morte de Vó-Aurora ela perdera o seu emprego. Então não poderia ser a criminosa.

Berê questionou: "Sua avó tem jóias guardadas?"

Respondi: "Não sei ..."

"Berê", então, me olhando com seus olhos grandes, modificou seu alvo, já achando que a culpada teria sido a "LuÍZA"...

No que argumentava: "Estavam somente elas duas com Aurora. Precisamos descobrir se ela tem jóias!"

No que respondi: "Se perguntar prá LuÌSA por jóias e ela for a culpada, vai desconfiar e também vai nos matar"...

Uma morte que permaneceu sem solução aos olhos das duas crianças, "nós".

Não descobrimos o verdadeiro culpado pela partida da Vó-Aurora.

E Vó-Azinha foi ajeitada em sua mesa fúnebre.

Em volta dela foram acomodados estratégicamente alguns castiçais para as velas neles serem acesas.

E as velhas piadas foram sendo contadas até a despedida definitiva da Vó-Azinha.

E todos se "danavam a rir".

Queria chorar.

Não consegui.

Eu tinha pouco mais de onze anos ...

Sentei-me do lado de Vó-A.

Toquei suas mãos.

Beijei seu rosto.

Abracei seu corpo.

Não acredito que tenha partido.

Daqui a pouco vai acordar.

Seus óculos vão escorregar por seu nariz.

Eu sei ...

Ela vai me sorrir.

Nenhum comentário:

Postar um comentário