sexta-feira, 11 de dezembro de 2009

VÓ-AZINHA

Aurora era uma mulher que fazia seus próprios cigarros de palha.

Dizia que eramos descendentes de bugres.

Que um dia iria nos ensinar a fazer chover.

Lembro-me de minha bisavó-Luísa deitada no sofá da sala de sua casa.

Seus cabelos eram tão branquinhos ...

Já meu avô Manoel, um português legítimo, era um carroceiro.

Não o conheci.

Morreu tuberculoso de tanto carregar os pecados da humanidade.

Triste fim de Policarpo Quaresma, nos bastidores da família afirmavam que meu avô deixou muito cedo Aurora sózinha no mundo.

Dizem que Vó-Azinha, triste sina, sustentou a família com suas agulhas de crochet.

Queria que eu aprendesse a fazer correntinhas.

Falava: "Faça pontos altos e baixos ..."

Fabricava lindíssimas toalhas de renda com agulhas de pontas tão minúsculas que seria impossível alguém normal enxergar suas cabeças.

Verdadeiras obras de arte.

Minha Vó-Azinha era uma mulher especial.

Tinha mãos de fada.

Quando nos visitava em nosso sobradinho também queria ser nossa cúmplice.

Nos pedia segredo pois, diabética que era, queria experimentar nossos doces e balas.

Dizia: "Uma balinha ou um docinho só não tem importância".

Vó-Azinha!

Mastigava sua balinha.

Vó-Aurora!

Depois nos olhava sorrindo.

Quando minha mãe aparecia, ... nos piscava!

A "IM" que não era nada bobinha, falava: "Mamãããe, tá comendo bala?"

E a gente ria muito, ... dava bastante risada!

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