terça-feira, 22 de dezembro de 2009

O ERNESTO TE CONVIDOU?

Se algum dia aparecer alguém repetindo as mesmas palavras banais ou dizendo que é astrólogo, vidente, algum guru e mestre astral, então acredite que sou o Ernesto, não o do samba mas, o capataz! De graça te dou um grande conselho. Não aceite o meu convite. Não brinque com bonecas. Nem vá jogar ping pong no Brás!

Mas lá fomos eu, a "MAM" e a "Berê" ao Brás jogar ping pong. Local idealizado por alguns, não para os próprios, mas para outros rezarem. Contraditoriamente, era ao lado de uma fábrica que exalava um cheiro terrível de fumo e nicotina, um verdadeiro convite ao vício.

E nós os jovens, na verdade, muitos que em decorrência daquele cheiro enjoativo começaram a fumar e não a rezar, participavamos destes encontros juvenis não para ouvir a pregação do dia mas, com um único objetivo, o de conquistar um título de campeão ao empinar nossas raquetes.

E foi que minha amiga conheceu o "Salva", este é parte de seu verdadeiro nome que, algum tempo depois, a levou para o altar.

Que romântico!

Era "Johnny", não "André", como ela insistia em dizer, com quem compartilhei o meu primeiro beijo. E de "André", tenho como única recordação, uma das canções de Chicago e nada mais. Mas falando em beijos e em Judas, lembrando de cobras, a verdade é que comecei a dispensá-los.

Um pouco antes disto, crianças que eramos, costumavamos brincar de bonecas e de imaginar um enorme cabo de vassoura com nossa trouxinha nele amarrada, ao fugirmos sorrateiramente de nossas casas.

"Abra as tuas asas!"

Este era apenas um de nossos sonhos. E "Tatáu" é quem aconselhava minha amiga a ser mais paciente em seus intentos infantis.

Mais uma coisa era certa. Nossas mães viviam afirmando que eu e "MAM" não eramos boas companhias para ela e vice-versa. E refletindo sobre este tema, pensando bem, acho que elas tinham razão. Não eramos mesmo boa companhia umas para as outras.

E tanto insistiram que atingiram o intento, conseguiram nos separar para que, vejam só (!), cada uma, arranjasse um "traste" e subisse no altar. Mas nós fomos criadas para sermos grandes poetisas, atletas ou pianistas! Fui criada para ser estrela, estudar, não para casar!

Bom, fui mais feliz, disseram todas pois, consegui escapar não só de subir ao altar mas, da fase do casório em que resta apenas a rotina da hipocrisia, de se ter que rezar para o marido iniciar um caso com a tua melhor amiga ou alguma vizinha.

P a s m e m!

Ouvi bastante que quando o amor acaba e a mulher é obrigada a permanecer ao lado do traste que escolheu, por falta de opção, a verdade é: "Maridos, não se iludam pois, muitas levantam as mãos para os céus e dão graças a "Deus" se aparecer por perto alguma boa vizinha para cuidar de você que se tornou um velho bêbado, traidor ou cafajeste que ela há tanto tempo atura mas na verdade não quer mais!" 

Rezam para se livrar de ter de escutar àquelas velhas e idiotas gracinhas que elas próprias já fizeram parte mas se cansaram de tanto ouvir do traste que as levou ao altar.


Clamam a "Deus": "Pode levar! Já cansei! Você não quer? Era um lindo Romeu! Agora ninguém mais o quer! Que coincidência! Nem eu!"

Mas antes partiu "Tatáu", um idoso senhor solteiro de cabelos bem branquinhos. Iniciava-se uma era de despedidas. Partiram, também, "Vó-Azinha", "Toninho", filho de meu padrinho, "Alan", um amigo de escola, para nunca mais voltar. Ah! Estes dois morreram muito jovens, igual o marido da vizinha que tinha dois filhos e trabalhava no jockey.

Grande contradição, a cada despedida, nossas mães não mais sorriam, embora a pregação fosse a de que cumpriram a missão e estariam felizes ao lado de Cristo. Choravam, ficavam infelizes, de lencinhos nas mãos e nos seus narizes!

E nas vésperas de alguém subir ao altar, a pregação da moda era que cada uma precisava viver a sua própria vida! E os integrantes da nova família gostavam de dizer: "Agora ela é nossa! Se afaste! Não venha mais nos ver!"

Como se crescer junto, amor ou amizade fosse uma disputa de ping pong, pregação ou ladroagem ...

E nossas mães pregavam que nós precisavamos nos separar e cada qual conhecer o outro lado do mundo. Mundo meu que, eu no seu não mais existo, no meu você não faz mais parte.

É a nova pregação, cantam os novos "padres"!

Tempos depois mas, muito tempo depois mesmo, de uma rápida visitinha, me questionam o porquê não fico mais um pouquinho: "Fique! Não vá embora! Olha prá mim? Você não é o Dom Pedro proclamando a República e rompendo os laços com Portugal mas, agora é fique! Volte!"

Pensei, antes de dizer ...

"Nossa! 

Sinto muito! 

Vocês estão doentes? 

Alguma coisa está errada! 

Algo doi? 

Precisam de mim? 

aaaAh! Que pena.

Mas agora sou eu é que não posso mais.

Na verdade é não os quero mais.

Tenho uma sarjeta para conhecer. 

Aquela sarjeta suja e imunda.

Aquela que você um dia me indicou.

Tenho também o outro lado do mundo ainda para ler. 

Não que eu não queira te cuidar em seu leito de morte.

Não, não é isto. 

Agora que você quedou-se doente. 

Olhe em seu redor.

Ainda tem bastante gente. 

Nem quero ficar como você.

Com as minhas mãos latejando.

Nem com elas tortas ou doentes.

Depois de tanto tricotar.

Tantos sapatinhos, casaquinhos, toalhas e vestidinhos.

Não vou morrer de tantas carroças pilotar.

Nem de tanto me abaixar para tua grama cortar. 

Não que eu não te queira mais como companhia. 

Não, não é isto! 

Mas a verdade é que pode mesmo me mandar embora.

Para mim não tem mais importância. 

Não quero mais ficar te escutando por cima de muros.

Ouvir as tuas conversas sem sentido ou idiotas. 

É. É a verdade. Não quero.


Não quero ouvir mais pregação alguma.

Isto já não me convence mais. 

Já não mais tenho àqueles velhos vícios. 

Não, não fique triste.

Não é o fim do mundo. 

Nem o apocalipse. 

Tudo era apenas uma grande mentira. 

É apenas o fim das contas.

Reflita bem. 

Eu é que fui abandonada.


Pelas razões que sabemos.

E não se esqueça delas. 

Para não ter que de novo me abandonar. 

Desista de mim. 

Tão facilmente. 

Muito gentilmente. 


Graças que sem "rodeios".

Me mande mesmo embora. 

Você se lembra? 

Abril é a porta. 

A serventia da casa.

Sou janeiro, igual dezembro.

E quem é janeiro também não volta. 

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