sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

LEMBRE-SE DAQUELE NATAL!

Quando eu e "Berê" olhamos para o mesmo cabeludo, o que tinha alguns caracóis na cabeça, discordamos pela primeira vez.

"Berê" achava que ele era bem parecido com o ator Marcos Paulo.

Mas na verdade, acho que ele era semelhante a Roberto, o Carlos.

Conhecemos o galã comendo salgados na padaria do "Seu Coelho".

Padaria que ficava logo em frente da banca de jornal que pertencia ao "Paraná".

Permanecíamos nela por horas folheando as revistinhas.

Onde compravamos nossos álbuns e figurinhas.

Os romances para nossas mães.

Jornal para o "Tatáu".

Palavras cruzadas para os intelectuais.

As nossas bonequinhas especiais.

A mesma padaria e banca que levei muitas vezes a minha primeira sobrinha, dentro de seu pequenino macacão bordado no peito com a bonita saudação: "oi".

Ela retornava ao Brasil depois de uma viagem a bordo de um grande navio.

Dizem que aprendeu a se equilibrar ao embalar das ondas no mar.

Com a minha mesada, gostava de lhe comprar bugigangas.

Comprava-lhe balas quando chorava.

Penteava seus lindos cachinhos dourados com bob's.

E com ela caminhava de mãozinhas dadas.

Dizia para todos que ela era a minha bonequinha.

A que a cegonha me trouxera.

As pessoas abriam largos sorrisos para mim.

Também para ela.

Quando nos despedimos, ... acho que meses após elevarmos nossas vozes para cantar "neste natal, lembre-se de mim ...", não sabíamos se iríamos nos ver mais.

Depois que nasceu, as minhas moedinhas, eram destinadas para lhe comprar balas, chocolates, tudo que me pedia ou agradava a ela ...

Tinha pouco mais de onze anos.

Ah!

Não me recordo mais.

Eu e "Berê" voltamos às boas, depois que o sósia de "Marcos Paulo" desapareceu, para compartilharmos novamente o mesmo piano.

E em se tratando de nossos pianos, sempre havia a paz!

Bem, ... vez em quando, davamos algumas marteladas nos "bifes"!

Era uma farra na "garagem da academia".

Nosso querido maestro nos convocou para tocarmos a quatro mãos na próxima audição musical.

Escolhemos "Galope do Diabo", de G. Ludovic.

Nosso professor, abrindo um sorriso, apresentou alguma resistência em nos liberar a escolha da partitura, alegando que a música era uma canção superior ao ano em que cursávamos.

Após muitas lamentações, deu-nos uma semana para apresentarmos os primeiros resultados ou teriamos de escolher outra.

Depois de pequenas adaptações, muita dedicação e horas de estudo, fomos aprovadas.

Tocar "Galope do Diabo", a quatro mãos, foi uma das melhores experiências que tive na vida.

Posteriormente, a toquei em solo.

Neste mesmo ano, executei Beethoven, Sonata ao Luar.

E assim fui aprendendo a fazer os barulhos da terra.

O som dos burros teimosos.

Dos cavalos.

Dos trens.

Do luar.

Pode parecer engraçado.

Não é.

Em minha última audição executei a Marcha Fúnebre, de Frédéric François Chopin.

Meu maestro liberou a escolha afirmando que era uma canção complicadíssima e me mirando com seus olhos arregalados.

Disse-lhe beirando os doze anos de idade: "Depois de tocar Galope do Diabo, quero a Marcha Fúnebre".

Escute os barulhos na terra.

Somos panelas de pressão.

Nenhum comentário:

Postar um comentário